Sabores de Lisboa
Sabores de Lisboa
Cozinha tradicional rica em história e sabores
Em Lisboa cruzam-se sabores e cheiros de muitas gastronomias, porém, os lisboetas gostam especialmente da cozinha tradicional e têm sempre um pretexto para reunir a família e os amigos à volta da mesa.
No que diz respeito à “gastronomia lisboeta” há várias opiniões e, embora não haja consenso, consideram-se pratos típicos de Lisboa os seguintes: sopa rica de peixes, ovos verdes, peixinhos da horta, fava-rica, bacalhau à Brás, pataniscas de bacalhau, meia-desfeita, pescada à lisboeta, lebre à Bulhão Pato, amêijoas à Bulhão Pato, bife à Marrare ou bife à Café, iscas com elas, meia-unha com grão, perdizes à Convento de Alcântara, pivetes guisados. O bolo-rei, as broas castelar, as farturas, o pastel de nata ou pastel de Belém e as raivas de Lisboa são referidos como doces típicos da cidade.
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AMÊIJOAS À BULHÃO PATO
Raimundo António de Bulhão Pato (1828-1912) foi escritor, poeta e político mas ficou mais conhecido como gastrónomo e pelas receitas que criou, a destacar os afamados pratos de amêijoa, lebre, perdiz e cherne.
Ingredientes
1 kg amêijoa
3 dentes alho
azeite
1 ramo coentros
3 colheres sopa de vinho branco
1 limão
sal
pimenta
Preparação
- Colocar as amêijoas em água e sal durante duas a três horas, para expulsar a areia, e depois passá-las várias vezes por água.
- Num tacho, em lume brando, fritam-se os alhos esmagados no azeite.
- Em seguida, juntam-se as amêijoas, sacudir o tacho até que as amêijoas estejam todas abertas.
- Tempera-se com sal e pimenta, juntam-se os coentros, rega-se com o sumo de limão e o vinho branco.
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BACALHAU À BRÁS
Consta que a sua origem se deve a um taberneiro de Lisboa, de seu nome Braz (ou Brás), que misturou bacalhau desfiado, batatas fritas e ovos mexidos.
Ingredientes
400 gr bacalhau
3 colheres sopa de azeite
500 gr batatas
6 ovos
3 cebolas
1 dente alho
óleo
salsa, sal, azeitonas pretas e pimenta
Preparação
- Demolha-se o bacalhau, escalda-se, retiram-se peles e espinhas e desfia-se.
- Cortam-se as batatas em palha, as cebolas em rodelas finíssimas e pica-se o alho.
- Fritam-se as batatas em óleo bem quente só até alourarem ligeiramente.
- Num tacho, prepara-se o refogado com o azeite, a cebola e o alho juntado depois o bacalhau desfiado. Mexe-se. Juntam-se então as batatas e deitam-se os ovos ligeiramente batidos e temperados com sal e pimenta.
- Serve-se com salsa picada e azeitonas pretas.
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BIFE À MARRARE
António Marrare, cidadão napolitano e dono de vários cafés, todos eles pontos de reunião da melhor sociedade lisboeta do final do século XVIII, criou o célebre Bife à Marrare em 1804.
Foi criado no Café da Rua dos Sapateiros, também chamado “Marrare das Sete Portas”. Uma variação do Bife à Marrare é o Bife à Café, em que o molho é feito não com natas mas com leite, e leva um pouco de mostarda e limão. Esta receita não leva café, a sua designação deve-se ao local onde era tradicionalmente servido.
Ingredientes
1 bife do pojadouro (150/200 gr)
2 colheres sopa de manteiga
sal grosso
pimenta preta em grão
2 colheres sopa de nata
Preparação
- Derreta a manteiga numa frigideira de ferro, e coloque o bife a alourar dos dois lados. Esta operação deverá ser bastante rápida para que os sucos da carne não saiam.
- Tempere com sal grosso e pimenta moída.
- Escorra a gordura em que o bife fritou, conservando o bife na frigideira, junte a restante manteiga.
- Reduza o lume e adicione as natas até engrossar o molho, agitando sempre a frigideira.
- Sirva acompanhado com batatas fritas em palitos
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ISCAS COM ELAS
As finas tiras de fígado são habitualmente conhecidas por “iscas”, enquanto "elas" são as batatas que as acompanham. Este prato tem como especial ingrediente o vinagre. Segundo Albino Forjaz de Sampaio (1884-1949) na obra “Volúpia - A Nona Arte: a Gastronomia”, era um prato vulgar na Lisboa do século XIX e princípios do século XX.
Ingredientes
800 gr fígado de porco
50 gr banha
4 dentes alho
2 dl vinho branco
vinagre
2 folhas louro
sal, pimenta preta moída
1 kg batatas, salsa (opcional)
Preparação
- Prepara-se o fígado de porco em fatias finas (iscas) e colocam-se a marinar com o vinho branco, o vinagre, os alhos cortados às rodelas, louro, sal e pimenta. Deixa-se a marinar pelo menos 2 horas.
- Coloque a banha numa frigideira, deixe derreter e frite as iscas de um lado e do outro. Regue com o liquido da marinada, e deixe apurar.
- Coza as batatas com pele. Terminada a cozedura cortam-se às rodelas.
- Sirva as iscas acompanhadas de batata cozida e polvilhe com salsa picada.
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PATANISCAS
As pataniscas podem ser servidas como petisco, entrada ou como prato principal, acompanhadas de vários tipos de arroz e/ou saladas.
Ingredientes
600 gr bacalhau
4 ovos
50 gr farinha
1 cebola
salsa
óleo
sal
pimenta
Preparação
- Demolhe o bacalhau, escalde, retire peles e espinhas e lasque-o.
- Faça o polme juntando os ovos com a farinha até obter um creme, se necessário, acrescente um pouco da água onde cozeu o bacalhau.
- Adicione o bacalhau, a cebola e salsa picadas, tempere a gosto e envolva muito bem.
- Com a ajuda de uma colher retire porções do preparado e frite em óleo bem quente, de ambos os lados, até ficarem douradas.
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PEIXINHOS DA HORTA
Não se sabe ao certo a origem do nome desta preparação popular do feijão verde, é provável que derive da sua semelhança com pequenos peixes fritos. Este é um dos muitos exemplos de como com o pouco que tinham ao seu dispor, os portugueses, tiveram a capacidade de criar uma receita.
Esta especialidade pode ser servida como petisco, entrada ou acompanhamento de pratos de carne ou peixe. Diz-se que esta foi uma das receitas que deu origem á especialidade japonesa “tempura”, levada pelos missionários portugueses.
Ingredientes
400 gr feijão verde
125 gr farinha com fermento
1 colher sopa de azeite
1 dl cerveja ou leite
2 ovos
óleo
sal
pimenta
Preparação
- Aparam-se as pontas do feijão, lavam-se e cozem-se em água a ferver cerca de 5 minutos.
- Escorrem-se e deixam-se arrefecer.
- Faz-se o polme: deita-se a farinha numa tigela e ao centro abre-se uma cavidade na qual se deita o azeite, uma pitada de sal, pimenta, a cerveja ou leite e mexe-se bem. Adicionam-se os ovos um a um e bate-se bem a massa até ficar leve. Deixa-se repousar meia hora.
- Envolve-se o feijão verde na massa, um a um, e leva-se a fritar em óleo bem quente.
- Escorrem-se bem e estão prontos a servir.
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PASTEL DE NATA
O pastel de nata, de origem conventual, é um ex-libris da doçaria portuguesa. Anualmente realiza-se o concurso “O Melhor Pastel de Nata”, para avaliação desta popular especialidade. A receita original do pastel de Belém, oriunda do Mosteiro dos Jerónimos, localizado na zona de Belém, é um segredo bem guardado pelos mestres pasteleiros da Fábrica dos Pastéis de Belém.
Estes doces são fabricados nas atuais instalações desde 1837 e segundo a receita secreta do Mosteiro. Embora possam parecer iguais, o pastel de Belém, somente vendido na Fábrica dos Pastéis de Belém, e o pastel de nata (inspirado no de Belém), vendido por todo o lado, são diferentes tanto no recheio como na textura da massa folhada.
Massa
Ingredientes
Massa folhada
300 gr farinha
250 gr margarina para folhados
1/4 colher chá de sal
50 ml água
Preparação
- Misture a farinha o sal e a água, trabalhe a massa até ligar.
- Divida a margarina em 3 porções. Estenda a massa, espalhe sobre ela 1/3 da margarina e enrole como um tapete. Repita esta operação mais duas vezes, até acabar a margarina. Deixe descansar 20 minutos.
- Com o rolo da massa, estenda a massa num retângulo.
- Corte a massa em rodelas de 2 cm de espessura.
- Coloque cada rodela sobre uma pequena forma lisa, pressionando o centro, de modo a cobrir a forma.
Recheio
Ingredientes
1/2 lt natas
9 gemas
10 colheres sopa de açúcar
canela
açucar em pó
Preparação
- Leve ao fogo em banho-maria as gemas batidas com o açúcar e as natas até o preparado engrossar.
- Deixe amornar e coloque o preparado dentro de cada forma.
- Leve ao forno pré-aquecido nos 290º, até ficarem cozidos e tostados (cerca de 15 minutos).
- Retire do forno, desenforme, sirva quentes ou frios, polvilhados com açúcar em pó e canela.
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GINJINHA
Começou por ser uma bebida da classe burguesa, e, aos poucos foi aparecendo nas tabernas. É uma das mais populares bebidas portuguesas e a bebida típica de Lisboa.
Normalmente bebe-se ao balcão e pede-se “com elas” ou “sem elas” (com o fruto no fundo do copo ou não).
Ingredientes
1 kg açúcar
1 kg ginja
2,5 l aguardente
1 pau canela
Preparação
- Lave as ginjas, seque-as e retire os pés (mas não os caroços). Coloque as ginjas numa garrafa de licor com a boca um pouco larga, cubra com o açúcar, o pau de canela e no fim a aguardente. Tape a garrafa hermeticamente.
- Guarde a garrafa num lugar escuro e agite diariamente durante a primeira semana. Deixe descansar durante três meses até que os sabores estejam totalmente incorporados no álcool. Agora a ginjinha está pronta a ser bebida, mas é muito melhor após um ano. Sirva com algumas ginjas em cada copo.