O topónimo Cidade do Porto na toponímia de Lisboa

No início do século XX, intensificou-se o fluxo migratório das gentes dos campos para as cidades. Lisboa, que assistia à deterioração dos seus edifícios, muitos ainda da era pombalina, confrontou-se com sérios problemas habitacionais.
Em 1933, o Estado Novo tentou resolver o problema que gerava crescentes preocupações de caráter social e político. Na capital, acrescia o aproximar da Grande Exposição do Mundo Português de 1940 onde se pretendia apresentá-la moderna e cosmopolita.
Foram lançados sucessivos programas de construção de raiz de bairros de casas económicas, em terrenos afastados da então malha urbana citadina. O seu traço é idêntico, um arruamento central no qual entroncam arruamentos de traçado regular, serve de referência social e geográfica. A ideia fora importada de Inglaterra e lembrava as High Street das suas cidades, excetuando a ausência generalizada de comércio.
A Comissão Municipal de Toponímia, órgão consultivo da Câmara para a temática, iniciou os trabalhos em 1943. A sua competência maior era e continua a ser a análise e proposta à edilidade de nova toponímia para novos arruamentos.
Na sua reunião de 17 de outubro de 1944, a Comissão foi informada do desejo do Presidente da Câmara que se desse denominação às ruas designadas por letras ou números. Esta toponímia, provisória, identificava os bairros mencionados e respeitava ao registo das vias nos projetos, ou seja, em planta.
A sua localização periférica, o arrastar da construção e a escassez de toponímia para atribuir, por exemplo, numa ata de maio de 1973, registava-se a solicitação à Repartição de Acção Cultural da CML, da indicação de nomes de individualidades dignas de serem homenageadas na toponímia, levou a que a Comissão, que então se deslocava frequentemente aos locais, fosse desvalorizando estes casos.
Em fevereiro de 1947, foi submetido à Comissão o processo de atribuição de topónimos aos arruamentos do Bairro da Encarnação. Logo ali, foi proposto, que tal como outros, permanecessem identificados numericamente, oficializando-se essa toponímia.
No entanto, ainda esse mês, após visita ao local, a Comissão decidiu aí homenagear as cidades portuguesas. A alameda central passou a denominar-se Rua Cidade do Pôrto, a rua 1, Rua Cidade de Viana do Castelo, num total de 34 arruamentos/cidades. Nota curiosa o facto de as ruas 11 e 16 não serem abrangidas por não existirem mais cidades portuguesas.
Ora, logo no mês seguinte, chegou uma contestação a esta “toponímia de cidades” da parte da Direcção dos Correios, Telégrafos e Telefones, realçando os inconvenientes em atribuí-la devido à possível confusão de endereços.
Aproveitando o ensejo, na reunião de 17 mês de novembro de 1947 da Comissão, o vogal Jaime Lopes Dias concordou com os reparos dos Correios e acrescentou que não lhe parecia indicado atribuir-se o nome da Cidade do Porto a um arruamento de um bairro de casas económicas, na ocasião em que a Câmara Municipal daquela cidade acabava de homenagear a Cidade de Lisboa, atribuindo o nome da Capital da Nação a uma das suas mais importantes avenidas.
O presidente, Augusto Vieira da Silva, manifestou o seu acordo afirmando que o facto de se designar o nome da Cidade do Porto a um arruamento de um bairro de casas económicas, poderia originar suscetibilidades, o que era necessário evitar.
A toponímia das cidades na Encarnação foi revogada e o Bairro voltou a ter as suas ruas identificadas por números, por edital de 15 de março de 1950. A efémera Rua Cidade do Porto recebeu a toponímia Alameda da Encarnação.
A Cidade do Porto foi por fim homenageada com a atribuição feita ao arruamento entre a Praça do Aeroporto, vulgo Rotunda do Relógio, e a Avenida Doutor Alfredo Bensaúde, junto à qual entronca na A1, Auto estrada do Norte.
(AA)