Toponimia - detalhe

Rua do Limoeiro

  • Freguesia(s): Santa Maria Maior
  • Início do Arruamento: Largo do Limoeiro
  • Fim do Arruamento: Largo de Santa Luzia

Este local, no coração de Alfama, está indubitavelmente ligado ao edifício actualmente ocupado pelo Centro de Estudos Judiciários, mas que funcionou durante muito tempo como cadeia, o Limoeiro.

“No tempo de D. João II, o Paço de S. Martinho, sede do Desembargo do Paço, já funcionava como cadeia e ganhara um novo nome: Paço do Limoeiro ou, mais simplesmente, Limoeiro, em alusão a uma árvore que existia – supõe-se - no local e caracterizava o sítio.

Foi assim, com esta dupla função de cárcere (em baixo) e de Tribunal (nos pisos superiores), que o Limoeiro se manteve até ao século XVIII.

Ao Limoeiro eram conduzidos todos os condenados ao degredo nos territórios ultramarinos, a fim de aguardarem nas suas enxovias o dia do embarque.

Saliente-se que no Limoeiro existiam duas cadeias: a Cadeia da Cidade e a Cadeia da Corte, que eram distintas.

No tempo de D. João V, o Limoeiro recebeu beneficiações.

No fatídico dia 1 de Novembro de 1755, a terra tremeu violentamente em Lisboa. O grande terramoto semeou destruição e morte. O Limoeiro ficou seriamente danificado, produzindo-se a derrocada total da Cadeia da Cidade e parcial da Cadeia da Corte, havendo notícia de que os presos puseram-se todos em fuga. Apesar da severidade dos danos, o prior da paróquia de S. Martinho, respondendo ao inquérito efectuado, em 1758, aos diversos párocos da cidade, indicou terem morrido na área da sua paróquia, vitimadas pelo terramoto, apenas trinta pessoas. Na mesma resposta, o prior informa que a Cadeia da Corte já estava, ao tempo, reabilitada.

No século XIX, pensou-se, segundo Júlio de Castilho, "na edificação de uma boa cadeia pública, segundo as normas da higiene, e as prescrições da boa polícia moderna".

Realizadas as obras, o edifício ficou, a partir daí, com uma configuração exterior já próxima da actual. Do magnífico paço medieval, coroado de torres e coruchéus, de que nos falam algumas crónicas e estampas antigas, só restou a memória histórica e a evocação romântica de Herculano no seu Monge de Cister.

O poeta Pedro Correia Garção (em 1771), o poeta Barbosa du Bocage (1797), o pintor Domingos Sequeira (1808) e o escritor Almeida Garrett (1827) foram algumas das personalidades de vulto que conheceram os cárceres do Limoeiro. Também Hipólito da Costa, fundador, em 1808, do Correio Brasiliense (ou Armazém Literário), primeiro órgão da imprensa brasileira (ainda que publicado no exterior), foi um dos infortunados que passaram pela célebre prisão.

É negro o quadro traçado por Oliveira Martins, reportando-se ao Limoeiro no tempo do terror miguelista: "Os homens eram amontoados, empurrados a pau para a sociedade dos assassinos, nessas salas imundas, habitação de misérias informais. Davam-lhes sovas de cacete miguelista, e por dia um quarto de pão e caldo, onde flutuava, raro, alguma erva" (Portugal Contemporâneo).

Nos finais do século XIX e inícios do século XX, multiplicaram-se as críticas ao funcionamento da cadeia do Limoeiro, referida por Francisco de Melo e Noronha como "a escola repugnante de todos os vícios, a nódoa imunda que envergonha a nossa capital aos olhos dos estrangeiros (...)".

Atingido por diversos incêndios, como os de 1918 e de 16 de Maio de 1933, as obras de reconstrução e remodelação do edifício prolongaram-se pela década de 1940.

A cadeia ainda se manteve em funcionamento durante breves meses, após 25 de Abril de 1974. Em Julho desse ano, com a transferência dos presos que aí se encontravam para outro estabelecimento prisional, encerrou-se um longo capítulo da história do Limoeiro.

Tendo acolhido, transitoriamente, alguns portugueses retornados das antigas colónias africanas, as instalações do Limoeiro estiveram durante alguns anos desocupadas, até que, em Dezembro de 1979, foram atribuídas ao Centro de Estudos Judiciários.”

Fonte: www.cej.pt/HISTORIA_CEJ_LOCAL.htm



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